Dúvidas Frequentes
autor: pe. Pablo Neves - Publicado aos 26/06/2025
autor: pe. Pablo Neves - Publicado aos 26/06/2025
A Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia é na verdade aquela mesma Igreja de Antioquia cuja fundação encontramos na Bíblia, no livro de Atos dos Apóstolos, sendo a segunda comunidade cristã mais antiga do mundo (afinal, a primeira foi em Jerusalém, é claro!), tendo sido fundada pelos apóstolos de Jesus Cristo no ano 37 d.C.
Sim, basta abrir sua Bíblia, em qualquer tradução, que você encontrará a fundação da Igreja de Antioquia no livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 11, dos versículos de 19 a 26:
“Entretanto, aqueles que foram dispersados pela perseguição que houve no tempo de Estêvão chegaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando a palavra só aos judeus. Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, entrando em Antioquia, dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor. A notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé até Antioquia. Ao chegar lá, alegrou-se, vendo a graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com firmeza de coração, pois era um homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. Assim uma grande multidão uniu-se ao Senhor. Em seguida, partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos” (Atos 11: 19-26)
Sim, atualmente essa cidade pertence à Turquia, no Oriente Médio, e se chama Antáquia, capital da província de Hatay e faz parte da Região do Mediterrâneo. No passado, foi a terceira maior cidade do Império Romano e era a capital da Síria, por isso mesmo chamada de “Antioquia da Síria”.
A palavra “Siríaca” ou “sirian” significam a mesma coisa. Ela serve para designar o idioma guardado pela Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia desde os tempos dos apóstolos até hoje, e que também era falado por Jesus e seus apóstolos, pois era o idioma comum da época, chamado de “siríaco” ou “aramaico”. Nossa Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia utiliza até hoje esse idioma em seus documentos, livros, hinos, orações, bênçãos e liturgias.
A palavra “ortodoxa” vem da união de dois termos gregos: “orthos” que significa “reto” ou “verdadeiro”, enquanto “doxa” significa “fé” ou “opinião”. Assim, ortodoxo é aquele que segue fielmente um princípio, uma norma ou uma doutrina. A Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia crê ser fiel guardiã, sem alterações ou acréscimos, da Fé e da Doutrina da Igreja de Jesus Cristo, confiada aos seus Apóstolos e esses aos seus sucessores legítimos – os bispos, revelada pelas Sagradas Escrituras (a Bíblia Sagrada), pelos Santos Padres e pelos Concílios Ecumênicos.
A Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, basicamente, crê:
1. Na Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus Verdadeiro;
2. Na encarnação de Jesus Cristo, o Filho Único e Verbo de Deus do Espírito do Pai, nosso único mediador e salvador;
3. Na intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus, e dos santos, junto a Jesus Cristo que está sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso;
4. Na continuidade do Estado Puro e Virginal de Nossa Senhora, a Beatíssima Virgem Maria, mesmo após o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo o filho de Deus Pai;
5. Na validade e necessidade do batismo para absolvição do pecado original;
6. No milagre que ocorre em toda Divina Liturgia (Santa Missa) na qual, pela ação do Espírito Santo, invocado pelo sacerdote, o Pão e o Vinho tornam-se verdadeiramente o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo;
7. Na validade da confissão, arrependimento e penitência para o perdão dos pecados;
8. Na ressurreição dos mortos para a vida eterna;
9. Cremos no poder do sacerdócio que é único a ministrar os sacramentos instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.
Cremos das Sagradas Escrituras e na Santa Tradição, confiada aos apóstolos pelo próprio Cristo e repassada sem erro aos seus legítimos sucessores, os bispos e patriarcas da Igreja, que até hoje são responsáveis pelo pastoreio do povo de Deus.
Para melhor expressar a fé da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, basta ler o Credo Niceno-Constantinopolitano, elaborado nos dois primeiros Concílios Ecumênicos da Igreja, e proferido em todas as liturgias em todo o mundo:
Cremos em um só Deus, Pai todo poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis, em um só Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos. Luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, mas não criado, consubstancial ao Pai, pelo qual tudo foi criado, o qual, por nós homens e para a nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, através da virgem Maria, mãe de Deus, e se fez homem. Foi crucificado por nós, no governo de Pôncio Pilatos, padeceu, morreu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme a sua vontade. Ascendeu aos céus e sentou-se à direita do Pai, e há de vir, com imensa glória, para julgar os vivos e os mortos e o seu reino não terá fim. Cremos no Espírito Santo, que é o senhor fonte da vida, que do Pai procede, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, que falou pelos profetas e apóstolos. Cremos na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Proclamamos a unidade do batismo, para a remissão dos pecados. Aguardamos a ressureição dos mortos e a nova vida no mundo futuro. Amém.
Sim, pois entendemos a palavra “católica” como uma qualidade da Igreja de Jesus Cristo, pois “católica” significa “universal” ou “de acordo com o todo”. Ao afirmar que a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia é uma Igreja Católica, oriental (pois foi fundada no oriente e desenvolveu toda sua espiritualidade a partir da cultura oriental) e ortodoxa (pois crê não ter de desviado da fé reta e verdadeira) afirmamos que somos parte da única Igreja de Cristo fundada nos Apóstolos e continuada por seus sucessores, os bispos, ordenados diretamente por eles.
Contudo, nossos irmãos da Igreja Católica Apostólica Romana compreendem o significado da palavra “católica” de um modo diferente. Para eles, a palavra “católica” é exclusivamente compreendida como o nome próprio da “Igreja Católica Apostólica Romana”, ou seja, aquela chefiada pelo Papa, o bispo de Roma, e que compreende a si mesma como sendo a única e exclusiva Igreja Católica. Caso você compreenda assim, respeitamos sua compreensão, mas reafirmamos nossa fé como católicos orientais ortodoxos e esperamos que você também respeite isso.
Sim, pois a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia tem o Santo Evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo como fundamento de sua missão, sendo fiel zeladora de seus ensinamentos, práticas, testemunhos e doutrinas.
Porém, se a sua compreensão de uma igreja “evangélica” corresponde a de “igreja protestante”, ou “reformada”, então sua opinião não está de acordo com nosso entendimento, pois as “igrejas evangélicas” nesse sentido são as comunidades oriundas da chamada “Reforma Protestante” que ocorreu no século XVI, iniciada pelo padre católico romano Martinho Lutero e continuada por outros “reformadores” e movimentos diversos.
Não “rejeitamos o Papa” e nem temos qualquer opinião negativa a respeito daqueles que lideram nossa irmã Igreja Católica Apostólica Romana em todo o mundo, pois, para a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, ele é de fato o bispo de Roma, o sucessor do apóstolo São Pedro na Igreja de Roma e seu ministério e jurisdição estende-se a todas as Igrejas Particulares (dioceses) que estão sob seu domínio e em plena comunhão com ele. Para nós o Papa é um dos principais “patriarcas” do cristianismo a quem respeitamos como liderança cristã e figura histórica.
O que a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia não compreende como parte de sua própria constituição histórica e doutrinal é a posição da Igreja Católica Romana que considera o Papa de Roma como sendo a “cabeça visível da Igreja” e o “líder máximo de todas as Igrejas fundadas pelos apóstolos”, tendo jurisdição universal sobre todas as suas dioceses, sendo seu poder, inclusive, superior aos Concílios Ecumênicos.
Para a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia a Única e Exclusiva Cabeça de Igreja é Jesus Cristo. A Igreja não aceita compreender as atribuições do sucessor de São Pedro em Roma como sendo maiores do que aquelas que o próprio São Pedro possuía. A Igreja não encontra sustentação teológica ou histórica para isso.
Sim, é claro! Os apóstolos fundaram diversas Igrejas, tanto no oriente como no ocidente, e assim como eles, que eram vários indivíduos, mas formavam um só “colégio apostólico”, as Igrejas fundadas pelos apóstolos (por isso chamadas de “igrejas apostólicas”) formavam juntas uma só Igreja de Jesus – Una, Santa, Católica e Apostólica. Vejamos:
1. A Igreja de Antioquia (Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia) foi fundada por São Pedro, sendo seu primeiro bispo;
2. A Igreja de Alexandria (Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria) foi fundada pelo apóstolo São Marcos;
3. A Igreja da Armênia (Igreja Apostólica Armênia) foi fundada pelos apóstolos São Judas Tadeu e São Bartolomeu;
4. A Igreja da Índia (Igreja Siríaca Ortodoxa Malankara) foi fundada pelo apóstolo São Tomé;
5. A Igreja de Roma (Igreja Católica Apostólica Romana) também foi fundada pelo apóstolo São Pedro;
6. A Igreja de Constantinopla (atual Istambul - Turquia) foi fundada pelo apóstolo Santo André;
Todas essas Igrejas (entre outras) foram fundadas pelos apóstolos de Jesus. Os bispos que sucederam os apóstolos fundadores na liderança dessas Igrejas receberam o título de “Patriarca”, que quer dizer “chefe” ou “pai de todos”, pois lideravam os demais bispos da região.
Não, pois infelizmente através dos séculos as Igrejas fundadas pelos apóstolos acumularam diferenças e divergências de ordem teológica e disciplinar, bem como em espiritualidade e doutrina, o que resultou na separação dessas Igrejas em três grandes grupos:
1. Igrejas Orientais Ortodoxas (formada por 5 igrejas em plena comunhão entre si);
2. Igrejas Greco-Ortodoxas bizantinas (formada por 15 igrejas em plena comunhão entre si);
3. Igreja Católica Apostólica Romana (formada por 24 igrejas em plena comunhão entre si).
Obviamente essas igrejas, ainda que separadas, mantêm muitos elementos de fé, doutrina, história e disciplina em comum, pois todas possuem a mesma origem, ou seja, os apóstolos, e por isso mesmo reconhecem-se mutuamente como sendo igrejas verdadeiras, com a mesma Sucessão Apostólica, os sete sacramentos válidos, e mantêm relações de diálogo, respeito e cooperação mútua em todo o mundo.
Por terem todas sido fundadas pelos Apóstolos de Jesus Cristo, e partilhado uma única comunhão de fé por vários séculos, todas essas Igrejas guardam ainda hoje uma estrutura semelhante. Vejamos:
1. Todas têm as Sagradas Escrituras (Antigo e Novo Testamento) como fundamento de Fé;
2. Todas têm a Sagrada Tradição como fundamento de Fé;
3. Todas possuem uma hierarquia organizada com Bispos, Presbíteros (padres) e Diáconos;
4. Todas guardam os sete sacramentos da Igreja (batismo, crisma, eucaristia, matrimônio, ordem, confissão e unção dos enfermos);
5. Todas seguem tradições litúrgicas em suas celebrações, com uso de elementos como paramentos sacerdotais, velas, incenso, tempos litúrgicos etc;
6. Todas veneram, no sentido de respeitar e celebrar a memória, aqueles homens e mulheres que deram testemunho de fé, reconhecidos como “santos” e “santas”;
7. Todas possuem seus calendários litúrgicos com períodos e comemorações como Quaresma, Pentecostes, Advento, Natal etc;
8. Todas possuem práticas devocionais como Jejuns, orações comunitárias, procissões etc;
9. Todas possuem uma ativa vida pastoral com atividades para as famílias, jovens, crianças, educação, caridade e assistência social etc.
A Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, assim como as demais Igrejas Orientais Ortodoxas e as Igrejas Greco-Ortodoxas não aceitam:
1. A crença católica romana da jurisdição universal do bispo de Roma, o Papa;
2. O dogma católico romano da “infalibilidade Papal”;
3. O dogma católico romano da “Imaculada Conceição”;
4. A adição feita unilateralmente no século VIII pela Igreja Católica Romana do termo “e do Filho” (em latim “Filioque”) ao credo Niceno-Constantinopolitano original (formulado no século V);
5. O uso de imagens de escultura dentro das Igrejas;
6. A doutrina do Purgatório;
7. Uso de pão ázimo (hóstia) para celebração da Missa;
8. A comunhão apenas sob uma espécie para os fiéis;
9. A obrigatoriedade do celibato para o sacerdócio;
Além das diferenças teológicas citadas, há também as diferenças de “rito”, pois cada Igreja desenvolveu-se culturalmente em regiões distintas. Assim, ao entrar em uma Igreja Oriental Ortodoxa, você logo notará diferenças nas vestes, símbolos, arquitetura, orações, práticas etc.
Não. Quando um homem já é sacerdote ele não pode se casar, mas caso já seja casado antes de ordenação sacerdotal, ele poderá continuar casado e exercendo seu ministério. Assim, desde que seja casado antes, poderá ser sacerdote (padre). Caso seja ordenado sacerdote solteiro (celibatário) deverá permanecer assim até o fim da vida.
Essa tradição (os dois tipos de vocação) foi guardada fielmente pelas igrejas do oriente desde o tempo dos apóstolos e sempre foi sinal de vida e santidade para as comunidades.
Não. Homens casados só podem ser diáconos e padres (sacerdotes/presbíteros). Nas Igrejas Orientais Ortodoxas existem duas categorias de clérigos:
1. Clero celibatário: são os monges, que podem ser diáconos, padres e bispos. Na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, usam sempre um capuz sobre a cabeça com 12 cruzes, chamado “eskimo”;
2. Clero secular: homens casados antes da ordenação, que podem ser diáconos e padres. Usam sobre a cabeça um pequeno gorro, dividido em sete parte, chamado de “phiro”.
Os bispos são escolhidos sempre entre os monges (que são obrigatoriamente celibatários). Sendo o Patriarca também um bispo, logo, este sempre será antes de tudo um monge e, consequentemente, celibatário.
Aliás, termos como “monsenhor”, “arcebispo” e “patriarca” são títulos, e não ordens sacerdotais. Ordens são apenas “diácono”, “presbítero (padre)” e “bispos”. Vamos lá, quanto aos títulos, para ficar mais fácil:
1. Padres seculares (casados) podem receber o título de “monsenhor”, também chamado de “corepíscopo” na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia;
2. Bispos podem receber o título de “arcebispo”, também chamado de “metropolita” na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia;
Assim como Jesus escolheu exclusivamente homens entre os 12 discípulos, entregando somente a eles o sacerdócio, a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia compreende que, sendo sucessores dos apóstolos, os bispos e padres só podem ser escolhidos entre os homens, pois foi a eles que Jesus deu as seguintes ordens:
1. Comandar a Igreja (São Mateus 18: 18);
2. Celebrar a Eucaristia (São Lucas 22: 19);
3. Ir pelo mundo e pregar o Evangelho a todos (São Marcos 16: 15);
4. Batizar em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (São Mateus 28: 19);
5. Perdoar os pecados (São João 20: 23);
6. Curar as pessoas e expulsar demônios (São Mateus 10: 8);
No entanto, o diaconato, criado pelos apóstolos para auxiliá-los no serviço à comunidade, é também estendido às mulheres, como encontramos na Bíblia, na epístola de São Paulo aos Romanos, capítulo 16, versículo 1. A palavra “diácono” vem do grego antigo διάκονος, que significa “servo”. Ou seja, todo aquele que presta um serviço a Igreja, seja homem ou mulher, presta sua “diaconia = serviço”, sob as bênçãos do bispo.
Assim, na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia temos as diaconisas, que servem a Igreja nos serviços litúrgicos junto a assembleia e nos trabalhos pastorais, catequéticos, na administração paroquial etc. Elas recebem a benção do bispo, mas não possuem o ministério de celebrar a Eucaristia nem qualquer outro sacramento, ainda que possam, por exemplo, auxiliar diretamente os sacerdotes durante o sacramento do batismo às mulheres.
Todo homem verdadeiramente vocacionado pode ser padre. Desde que ele seja membro fiel e oficialmente da Igreja, através dos sacramentos do batismo, crisma e eucaristia, seja um paroquiano atuante das atividades comunitárias, esteja disposto a servir a comunidade, sendo exemplo para os paroquianos, fiel zelador da fé da Igreja, obediente à hierarquia eclesiástica e à missão evangélica.
Ele deverá fazer uma formação teológica dentro da Tradição da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, tornando-se apto para pregar e ensinar a Doutrina da Igreja e, se for casado, deverá ter autorização de sua esposa para ser ordenado.
Sim. A sede da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia é chamada de “Patriarcado”, assim como a sede das demais Igrejas Orientais Ortodoxas. O Patriarcado de Antioquia, oficialmente chamado de “Patriarcado de Antioquia e Todo Oriente” atualmente está sediado em Damasco, capital da Síria. Nele reside o Patriarca de Antioquia e Todo Oriente, atualmente Sua Santidade Mor Inácio Efrém II, 123º Patriarca de Antioquia e Todo Oriente e Sucessor de São Pedro da Cátedra de Antioquia.
*Mor: corresponde a “Dom”, que significa “senhor”, em aramaico.
*Inácio: Todos os patriarcas de Antioquia adotam o nome “Inácio” como nome religioso quando são eleitos patriarcas, em homenagem à Santo Inácio de Antioquia.
É lógico que não. Da mesma forma que papara ser da Igreja Católica Romana você não precisa nascer na Itália ou pra ser luterano você não precisa ser alemão. Para ser um “cristão siríaco ortodoxo” você precisa professar a fé da Igreja e ser recebido por ela através dos sacramentos da iniciação cristã (batismo, crisma e eucaristia).
Vamos por partes:
Primeiro, a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia possui dioceses em países fora do oriente porque seus fiéis espalharam-se pelo mundo por diversos motivos, especialmente por perseguições aos cristãos no Oriente Médio e pelas guerras no começo do século XX. Assim, a Igreja formou comunidades para atender seus fiéis em todos os lugares do mundo onde eles estivessem.
Segundo que a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia é uma Igreja de Tradição Oriental, mas suas verdades são Universais (Católicas). Assim como a “Igreja Ocidental” (Igreja Católica Romana) possui comunidades no oriente, as Igrejas Orientais possuem comunidades no ocidente, pois compreendem que sua fé, independentemente de suas práticas litúrgicas, podem e devem alcançar a todos aqueles que estiverem dispostos a professá-las.
A Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia chegou ao Brasil por conta da imigração de famílias oriundas de países como Líbano, Síria, Turquia, Iraque, Palestina e Jordânia, no final do século XIX e início do século XX. Essas famílias se estabeleceram primeiramente em São Paulo – SP, Belo Horizonte – MG e Campo Grande – MS, formando as seguintes comunidades, conhecidas como “igrejas de colônia”:
1. Igreja Siríaca Ortodoxa Santa Maria - SP;
2. Igreja Siríaca Ortodoxa São João - SP;
3. Igreja Siríaca Ortodoxa São Jorge - MS;
4. Igreja Siríaca Ortodoxa São Pedro - MG.
Na década de 1980, o bispo siríaco ortodoxo do Brasil, Mor Crisóstomo Moussa Matanos Salamah, iniciou a formação de comunidades missionárias para brasileiros sem ascendência oriental, abrindo as portas da Igreja para fiéis e vocações brasileiras e traduzindo seus ritos, hinos, livros e documentos.
Atualmente, além das Igrejas de colônia, que formam uma diocese distinta, a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia no Brasil possui uma diocese distinta para os brasileiros sem origem étnica oriental. Essa diocese é chamada de “missionária” ou “em missão”.
Um Concílio Ecumênico é a reunião dos líderes de todas as Igrejas fundadas pelos apóstolos de Jesus Cristo, que formam a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, para tratar e decidir sobre questões de Doutrina e Disciplina da Igreja. Antes das Igrejas se dividirem, foram realizados três Concílios Ecumênicos:
1. Concílio de Nicéia, em 325 d.C.;
2. Concílio de Constantinopla, em 381 d.C.;
3. Concílio de Éfeso, em 431 d.C..
Esses três Concílios Ecumênicos reuniram os bispos de todas as Igrejas Apostólicas quando estas estavam ainda em plena comunhão entre si e, sob a assistência do Espírito Santo, decidiram todas as matérias basilares da fé da Igreja.
A palavra ecumênica deriva do grego "οἰκουμένη", que significa literalmente "o mundo habitado". Inicialmente, ela foi usada para se referir ao Império Romano e, posteriormente, passou a ser aplicada para designar o mundo em geral.
A Igreja Católica Romana, após a divisão, realizou outros “concílios”, totalizando 21 concílios no total, até agora. O último deles foi o Concílio Vaticano II, do qual nossa Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia participou como observadora oficial.
As Igrejas Greco-Ortodoxas (bizantinas), após a divisão, realizaram outros “concílios’, totalizando 7 ao todo. O último foi o 3º Concílio de Constantinopla em 681 d.C.
Cada Patriarcado possui um Patriarca que preside o Santo Sínodo, que é a reunião de todos os bispos que compõem o Patriarcado. O Santo Sínodo é responsável por tratar de todas as questões administrativas envolvendo as dioceses que compõem o Patriarcado, e se reúne periodicamente. Ao contrário dos Concílios Ecumênicos, os Sínodos não tratam de questões doutrinais, apenas administrativas, pois dizem respeito às questões internas de cada patriarcado.
Peshita é uma palavra em siríaco (aramaico) que significa “simples”. É basicamente a versão siríaca da Bíblia, comumente usada pela Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia em todo o mundo.
Nas comunidades onde o idioma árabe é usado e conhecido, sim. Nas demais, é utilizado o idioma local (vernáculo) e o siríaco (aramaico) ao mesmo tempo. Por exemplo: no Brasil, as comunidades utilizam o siríaco (aramaico) e português, enquanto nos Estados Unidos da América, utilizam o siríaco (aramaico) e o inglês, e assim por diante.
A Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia não é um clube étnico fechado. Assim como qualquer Igreja, é uma casa que acolhe a todos. Desse modo, qualquer pessoa pode assistir nossas celebrações, aconselhar-se com os sacerdotes, participar de nossas atividades comunitárias como festejos e comemorações.
Contudo, os sacramentos são reservados aos fiéis que professam a fé e são recebidos oficialmente na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, através do Batismo e Crisma, ou da Profissão de Fé.
Caso você necessite receber algum sacramento com urgência, ou esteja impedido de recorrer a um padre católico romano por motivo grave, você poderá receber o sacramento com um padre da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, sem deixar de ser católico romano por isso. Da mesma forma, fiéis da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, em situações semelhantes, poderão fazer o mesmo, sem deixar de serem siríaco ortodoxos.
Porque as Igrejas, apesar do cisma (divisão) reconhecem que ambas guardaram não somente a mesma compreensão sobre os sacramentos, mas também o que chamam de “válida sucessão apostólica”, ou seja, tanto na Igreja Católica Romana quanto nas Igrejas Orientais Ortodoxas, os padres são ordenados por bispos, que um dia foram ordenados por outros bispos, de forma ininterrupta através dos séculos, sendo o primeiro deles ordenado por um dos Apóstolos de Jesus, que passaram a estes sucessores os seguintes poderes (novamente!):
1. Comandar a Igreja (São Mateus 18, 18);
2. Celebrar a Eucaristia (São Lucas 22, 19);
3. Ir pelo mundo e pregar o Evangelho a todos (São Marcos 16, 15);
4. Batizar em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (São Mateus 28, 19);
5. Perdoar os pecados (São João 20,23);
6. Curar as pessoas e expulsar demônios (São Mateus 10, 8);
Os dois grupos de Igrejas reconhecem que essa “sucessão” nunca foi interrompida em nenhum dos lados, logo, os sacramentos administrados pelas duas Igrejas são mutuamente reconhecidos como verdadeiros.
Não, pois cremos que nenhuma igreja protestante possui bispos validamente ordenados, cujas sucessões apostólicas tenham se mantido ininterruptas. Nem a Igreja Católica Romana e nem as Igrejas Orientais Ortodoxas reconhecem como verdadeiros os sacramentos das igrejas protestantes.
O uso da barba pelos sacerdotes é um símbolo tradicional na Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia. Símbolos são elementos que nos ligam a uma mensagem ou conceito. Nesse caso, a barba, que é ordinariamente uma característica dos homens crescidos, simboliza que o sacerdote é um “homem crescido” no sentido de “maduro” na fé, pronto para guiar o rebanho a ele confiado. O tamanho da barba não qualifica o sacerdote, nem mesmo sua ausência (pois há homens que não tem barba), mas é uma das tantas tradições guardadas pela Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, que é preservada pelos padres e bispos como sinal (símbolo) do sacerdócio na comunidade, além é claro de simbolizar o abandono das vaidades.
Ao contrário do que muitos pensam, a batina (veste preta comprida, com mangas compridas) não é uma “veste sagrada” ou coisa do tipo. A batina funciona como um uniforme, um símbolo que identifica o sujeito como diácono, padre ou bispo. Assim como a barba, o uso ou não uso da batina não desqualifica o sacerdote, contudo, é importante para que os fiéis o identifiquem em sua função e missão, podendo a ele recorrerem em caso de necessidade espiritual, haja visto que o sacerdote, ao ser ordenado, assume uma posição religiosa pública em prol da comunidade, colocando-se sempre a disposição do serviço e testemunho cristão.
Em outras palavras, o “hábito não faz o monge, mas o identifica”. É importante tanto para quem o usa quanto para quem o vê usando.
Porque no oriente a arte sacra tradicional é a pintura, chamada de “iconografia”. Na verdade, nós usamos imagens sim, mas ao invés de esculpidas em pedra, madeira ou gesso, elas são pintadas em tábuas de madeira ou diretamente nas paredes das igrejas. Isso não significa para nós que as imagens de escultura sejam algo errado, mas simplesmente que não fazem parte de nossa identidade litúrgica e tradição.
E não, não consideramos as imagens de escultura ou pintura como idolatria, pois o mesmo Deus que no livro de Êxodo 20:4 ordenou a Moisés que não se fizesse imagens de escultura, ordenou no livro de Números 21:8-9, ao mesmo Moisés, que fizesse uma imagem de escultura, em forma de serpente, para que todos que a olhassem ficassem curados. Aliás, o próprio Jesus, no Evangelho de João 3:14, comparou a ele mesmo com a imagem da serpente no deserto, escultura em bronze feita por Moisés, o que para nós deixa claro que o problema não está na imagem em si, mas naquilo que se atribui a ela. As imagens de Jesus, da Virgem Maria, das passagens bíblicas e dos santos nunca buscam em si mesmas tomar o lugar de Deus, muito pelo contrário, portanto, não podem em nada ser compreendidas como idolatria.
Sim, é verdade. E fazemos assim porque Jesus, na última ceia, também usou pão fermentado, e os apóstolos, em todas as celebrações eucarísticas (missas) que celebraram, também usaram pão fermentado, e a Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, assim como todas as Igrejas Orientais Ortodoxas, nunca alterou isso. Aliás, a hóstia (pão sem fermento) só começou a ser usada pela Igreja Católica Romana no século IX, ou seja, quase 900 anos depois de Cristo. Antes disso eles também usavam pão fermentado.
Esse entendimento equivocado de que Jesus teria usado pão sem fermento para a eucaristia se dá pelo fato da Bíblia dizer que a última ceia ocorreu no período da Festa dos Pães Ázimos (Mateus 26:17), o que leva as pessoas a concluírem automaticamente de que Jesus usou esse tipo de pão.
A questão é que, na Bíblia, todas as vezes que se fala de “pão sem fermento” usa-se a palavra grega ἀζύμος (ázimos) que significa literalmente “sem fermento”, enquanto para o “pão fermentado” usa-se a palavra ἄρτος (ártos). O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, e durante a narrativa da última ceia, em momento algum usa-se o termo ἀζύμος (ázimos) para se referir ao pão tomado por Jesus, mas sim ἄρτος (ártos), ou seja, pão fermentado. Também o apóstolo Paulo em 1ª Coríntios 11:23 usa a palavra ἄρτος (ártos) = pão fermentado, e não ἀζύμος (ázimos), para falar sobre a eucaristia.
Assim, o uso do pão fermentado para celebração eucarística não é algum tipo de novidade, deturpação ou diferencial das Igrejas Orientais Ortodoxas, mas a fiel continuação, sem alteração, daquilo que o próprio Jesus fez, bem como seus santos apóstolos.
Na verdade, essa é uma percepção equivocada. O sacerdote não está “de costas” para ninguém, mas assim como toda a assembleia, ele está voltado para o oriente. As Igrejas Orientais Ortodoxas, via de regra, são construídas com o altar na direção do oriente, pois em Atos 1:11, após a ascensão de Jesus, os anjos afirmam que Jesus voltará, e em Mateus 24:27 o próprio Jesus afirma que sua volta será do oriente. Assim, voltar-se para o oriente, onde está o altar da Igreja, significa nossa fé inabalável na volta de Jesus Cristo, bem como nossa fidelidade e prontidão, como seus fiéis seguidores e membros da Igreja.
O sacerdote, portanto, não é em si mesmo o centro das atenções durante a Divina Liturgia (Missa), mas sim aquele que, ordenado pelo bispo – sucessor dos apóstolos – pastoreia o povo de Deus tendo sempre Jesus como centro de sua fé, adoração e seguimento. Ele é, antes de ser padre, também um fiel seguidor de Cristo e, assim como toda a assembleia, aguarda pela volta de Jesus, e por isso se posiciona durante a Missa voltado para o altar (o oriente) enquanto recita as orações, súplicas e louvores a Deus. Já quando proclama o Evangelho, profere a homilia (sermão), dá bênçãos e entrega a santa comunhão, ele obviamente volta-se para a assembleia.