O Memorial Dom Crisóstomos Moussa Matanos Salamah é um espaço dedicado à preservação, pesquisa e divulgação da vida e obra do primeiro arcebispo siríaco ortodoxo do Brasil, figura central na história do cristianismo oriental em solo brasileiro. Este memorial reúne um acervo histórico valioso, composto por documentos, fotografias, objetos litúrgicos e registros que testemunham a trajetória missionária e o legado espiritual de Dom Crisóstomos.
Nascido na tradição da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, Dom Crisóstomos Moussa Matanos Salamah foi consagrado bispo em 1959 e tornou-se o grande responsável pela expansão da Igreja Siríaca Ortodoxa no Brasil. Sua atuação foi marcada por uma visão inclusiva e missionária: em 1983, ele abriu as portas da Igreja não apenas para descendentes de imigrantes do Oriente Médio, mas também para brasileiros de todas as origens, promovendo uma integração inédita e ampliando o alcance da fé siríaca ortodoxa no país.
O memorial destaca a importância de Dom Crisóstomos como pioneiro na missão evangelizadora, responsável por ordenar missionários de diversas tradições cristãs e por construir pontes entre culturas e espiritualidades. Seu trabalho resultou na formação da “Igreja de Missão”, reconhecida oficialmente pelo Patriarcado e hoje presente em diversos estados brasileiros, com uma comunidade majoritariamente composta por brasileiros.
Além de preservar a memória do arcebispo, o Memorial Dom Crisóstomos Moussa Matanos Salamah é também um centro de pesquisa sobre a história da Igreja Siríaca Ortodoxa, sua liturgia em língua aramaica, tradições monásticas e o papel da comunidade siríaca na formação do mosaico religioso brasileiro. O espaço convida pesquisadores, fiéis e o público em geral a conhecerem uma herança espiritual milenar, marcada pelo diálogo, pela resistência e pela renovação da fé cristã em terras brasileiras.
Moussa Matanos Salamah nasceu em 27 de setembro de 1930, na cidade de Farqulos, pertencente à Diocese de Homs. Filho de Mtnos Salamah e Serah Sattah, ambos reconhecidos por sua virtude cristã, é o terceiro entre cinco irmãos.
Foi batizado e crismado no dia 30 de outubro de 1931 pelo Padre Boutros Gadoun, pai do futuro sacerdote pe. Elias Gadoun, na cidade de Al-Hafar. Desde a infância, destacou-se por seu amor à Igreja e pela vida espiritual. Recebeu os fundamentos das línguas siríaca, árabe e francesa com o falecido Reverendo Ibrahim Latife e o Professor Jawad Shalab.
Ingressou na Escola do Seminário de São Efrém, em Zahle, no Líbano, no dia 27 de setembro de 1943, sob a orientação do Professor Iskandar Mahama, um jurista de renome. Em 1945, transferiu-se com o seminário para Mosul, no Iraque, onde permaneceu até 1950. Lá concluiu sua formação superior nas áreas de Filosofia, Teologia, Direito Canônico e História da Igreja. Durante os anos de 1949 e 1950, atuou como professor de língua siríaca e de história eclesiástica.
Em 27 de setembro de 1949, foi sagrado monge pelo Bispo Athanasius Touma Kassir, na Igreja da Virgem, em Mosul, acompanhado pelo monge Lucas Chaaya. Em 27 de setembro de 1951, foi ordenado Diácono pelo Patriarca Inácio Efrém I Barsoum, de saudosa memória, na Igreja Um Al-Zennar (Santo Cinto), em Homs, ao lado do também monge Behnam Jijjawi.
Foi enviado como missionário e professor para a Índia, onde atuou por oito anos. Ministrou aulas em três seminários e pregou em diversas igrejas e espaços públicos. Publicou oito livros em malaiala, idioma local, entre os quais se destaca a obra “Água da Vida”, que trata do sacramento do batismo. Seus livros continuam sendo impressos e utilizados pela comunidade cristã local. Durante seu ministério na Igreja de São Tomás, em San Jose, Califórnia, teve encontros com o Padre Thomas, da Igreja Indiana, que lhe relatou a importância e a republicação das obras do Bispo Moussa Matanos para a Igreja no país.
Em 1959, deixou a Índia e veio ao Brasil, atendendo ao chamado de Sua Santidade Moran Mor Inácio Jacó III. Aqui, dedicou-se à:
Unificação dos membros da Igreja;
Construção de duas igrejas, uma escola de ensino médio e outras instituições;
Tradução dos rituais litúrgicos para o português, preservando suas melodias tradicionais;
Publicação de estudos teológicos e históricos no boletim semanal “O Caminho”.
Além de seus estudos religiosos, o Bispo Crisóstomo Moussa Matanos Salamah possuiu formação acadêmica em orientação, administração e psicologia, sendo fluente em oito idiomas: francês, espanhol, esperanto, malaiala, árabe, siríaco, inglês e português. Dentre suas produções, destaca-se um dicionário árabe-siríaco, cuja elaboração levou mais de trinta anos.
No dia 15 de janeiro de 1982, durante a Festa de Nossa Senhora das Semeadoras, foi consagrado Bispo e Vigário Patriarcal da Arquidiocese do Brasil pelo Patriarca Mor Mor Inácio Zakka I, de saudosa memória, Patriarca Siríaco Ortodoxo de Antioquia e Todo Oriente, na Catedral de São Jorge, em Damasco, Síria, recebendo o nome episcopal de Crisóstomo.
A cerimônia foi acompanhada por:
Mor Dionysios Girgis Behnam;
Mor Malatius Barnaba, Metropolita de Homs e Hama;
Mor Theophilus George Saliba, Metropolita do Monte Líbano;
Mor Severus Isaac Saka, Vigário Geral Patriarcal.
Após sua ordenação, proferiu um discurso comovente intitulado “Sementes de Vida”, no qual relacionou a festividade de Nossa Senhora com o esforço missionário dos padres siríacos na disseminação da fé ortodoxa. Enviou ainda uma mensagem especial aos fiéis brasileiros, expressando que espiritualmente estavam unidos naquela celebração. No Salão Patriarcal, recebeu de Sua Santidade o báculo pastoral e um medalhão da Virgem Maria, sob calorosos aplausos dos presentes.