Sagradas Escrituras

PESHITTA: A BÍBLIA DA IGREJA SIRIAN ORTODOXA DE ANTIOQUIA

Autor: abuna dr. Celso Kallarrari

A Bíblia da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia é conhecida como Peshitta. Ela foi preservada milagrosamente da destruição até chegar ao ocidente no século XIX. É a versão padrão da Bíblia cristã no siríaco (aramaico), língua utilizada por Jesus, sua mãe e seus discípulos, nas igrejas de herança siríaca.

Enquanto a maior parte da igreja primitiva (ocidental) optou pela Septuaginta Grega, ou traduções, a partir dela, do Antigo Testamento, as igrejas siríacas tiveram seu texto traduzido diretamente do hebraico por volta do segundo século. Já o Novo Testamento da Peshitta tinha-se tornado o padrão até o início do quinto século, substituindo as duas primeiras versões Siríacas dos Evangelhos.

Os exemplares da Bíblia, com exceção dos perganinhos do Mar Morto, são o Codex Vaticanus, conservado na Biblioteca do Vaticano e do Codex Sinaiticus ,no Museu Britânico. Mas a Igreja Anglicana obteve no século XIX, as cópias da Bíblia aramaica (Peshitta) de Kerala, que se supõe ter sido tão antigas quanto às cópias preservadas no Vaticano e em Londres. Estes tesouros nacionais indianos estão agora na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

A Bíblia foi escrita originalmente em aramaico, hebraico e grego. No início do quinto século EC, São Jerônimo a traduziu totalmente para o latim. Embora esta versão da Bíblia, conhecida como Bíblia Vulgata, seja a principal versão majoritária utilizada pela Igreja Católica Romana (ICAR), existe outra versão guardada por um ramo do Cristianismo que tinha se estabelecido em Antioquia, na Síria. Sua versão da Bíblia supõe-se ter sido levada a Malabar, na Índia, com o Cristianismo no primeiro século EC. Para este lugar, conforme a tradição, dirigiu-se Mar Thoma (São Tomé), um dos doze apóstolos de Cristo. […]

A comunidade cristã indiana em Malabar utilizou-se, desde o início, a versão da bíblia siríaca. Contudo, com a chegada de portugueses católicos romanos, em 1498, à Índia, apesar de ficarem felizes por encontrar uma comunidade cristã nativa em Malabar, se propuseram eliminar a influência do Patriarca de Antioquia da Igreja Indiana e pretendiam que os cristãos indianos transferissem sua aliança para o Papa, em Roma. Isto provocou conflitos freqüentes entre os portugueses e a comunidade cristã indiana em Malabar, ao ponto de, em 1599, intentarem a destruição da “Bíblia siríaco-aramaica”.

O clero siríaco não tinha suspeitado das más intenções dos portugueses, além de não conseguir salvar algum dos livros teológicos. Mas, providencialmente, o comunicado do Arcebispo Português Menezes de Goa de trazer volumes teológicos a Uday-Amperor, não havia chegado a uma das igrejas remotas da montanha do centro de Malabar. Por isso, uma cópia da versão siríaca da Bíblia escapou da destruição! Mais tarde, esta cópia passou a ser o mais preciso volume da Igreja Síria na Índia e um véu de segredo rodeou esta Bíblia, que estava “perdida”. Seu paradeiro é pouco conhecido nos escalões superiores da Igreja Síria Ortodoxa. […]

Para a Índia, é uma questão de grande orgulho que este país – cujas principais religiões incluem o Hinduísmo, o Islamismo, o Cristianismo, o Budismo, Jainismo e o Sikhismo, e o último refúgio do Zoroastrianismo e da fé judaica na Ásia -, tenha sido também o país onde tais cópias raras da Bíblia foram conservadas com êxito ao longo de séculos, até mesmo antes da Europa aceitar o Cristianismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã. Introdução à história da Bíblia. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1999.
SWAMY, K. R. N. The lost Aramaic Bible of Syrian Christians of Kerala. In. . Trad. Allan G. Araujo. Acesso em 11 abril de 2004.