Edito Patriarcal para Grande Quaresma 2023



Edito Patriarcal para Grande Quaresma 2023.

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EDITO PATRIARCAL PARA A QUARESMA 2023
Tradução: diácono Aniss Sowmy

“Por acaso eu sou o guardião do meu irmão?” (Genesis 4:10)

Amados em Cristo:

Novamente a estação da Santa Quaresma brilha sobre nós com suas bênçãos, graça e frutos espirituais que nos ajudam a levantar e nos livrar dos fardos de nossas almas e corpos. A Santa Igreja nos indica leituras para este período afim de ler e contemplar como nosso Senhor Jesus circulou pelas cidades e vilas praticando o bem (Mateus 9:35. Atos 10:38). Ele curou os enfermos e mostrou misericórdia aos fracos e marginalizados. Ponderemos também sobre as parábolas que nos deu como a do Bom Samaritano que cuidou do seu inimigo com piedade e amor (Lucas 10: 25 – 37). Todos estes trabalhos e ensinamentos foram símbolos e formas do amor de Deus para conosco. Ele, o Médico Celestial que veio para curar nossa espécie humana da mordida venenosa da serpente (Genesis 2). Amou até o fim (João 3: 16. 13: 1), até a morte, mesmo a morte na Cruz (Filipenses 2: 8). Ele veio até nós e se tornou como nós, um irmão para que nós possamos nos tornar seus irmãos e irmãs, filhos do Pai Celestial.

Por isso temos a consciência da responsabilidade específica e geral a nós confiada como seguidores e discípulos de Cristo de nos amar uns aos outros trabalhando juntos pelo bem da espécie humana servindo os fracos e oprimidos. Na Bíblia, tanto no Velho como no Novo Testamento, em especial na vida terrena de nosso Senhor Jesus e depois no exemplo dos santos apóstolos em seus ministérios, contatamos como Deus ampara os órfãos, as viúvas e os estrangeiros, o que era contrário à maioria das culturas e religiões predominantes; onde ainda constatamos o princípio da sobrevivência do mais forte prevalecendo enquanto o pobre e o fraco eram marginalizados pelas sociedades. Ainda em algumas sociedades os enfermos eram isolados ou deixados para trás ou mesmo vistos como a vergonha das suas famílias. Mulheres eram tratadas como inferiores, como se fossem criaturas menores que não tinham valor na sociedade. Assim seres humanos eram oprimidos e escravizados por seus semelhantes, estabelecendo até mesmo categorias classificando as pessoas por suas posses, autoridade, educação ou por qualquer outro valor cultural. Esqueceram que Deus criou todos à sua semelhança concedendo a mesma liberdade e dignidade sem nenhum favoritismo ou discriminação.

O questionamento de Deus a Caim no livro do Gênesis continua ecoando até hoje: “Onde está teu irmão Abel?” (Gênesis 4: 9) lembrando-nos da responsabilidade para com os outros humanos. Nossa resposta não pode ser a de Caim: “Sou o guardião do meu irmão?” Ao contrário, precisamos aceitar o fato de sermos os guardiões uns dos outros assim sendo, responsáveis uns dos outros. Somos conectados uns aos outros através do amor e da fraternidade. Precisamos responder espontaneamente às necessidades dos nossos irmãos e irmãs com amor fraterno, generosidade, entusiasmo e devoção como nos ensinou o santo Filoxinos de Mabug na sua homilia sobre a simplicidade: “Abel na sua inocência ouviu e obedeceu como uma criança, pois, na sua simplicidade não levou em consideração o mal. Ele não ficou curioso em seu coração porque Caim o chamou para o vale, assim como não estava ciente do ódio de Caim para com ele, pois, a simplicidade não sabe ver ou reconhecer estas coisas. Não obstante, ele o tratava com a inocência do seu coração e pensando no amor do seu irmão, e, portanto, para onde o chamasse ele prontamente seguiria”.

Os terremotos recentes que atingiram muitas regiões da Síria e da Turquia causaram milhares de mortes, assim como dezenas de milhares de feridos, deslocados e pessoas que ficaram sem seus lares. Esta situação nos nossos países exigiu que todos nós demonstrássemos nossa fé através dos nossos atos. Devemos sim, sentir a nossa responsabilidade para com os outros e dizendo: “Sim eu sou o guardião do meu irmão ou da minha irmã! Eu sou responsável por seu bem-estar independente da sua proximidade (ou parentesco), religião, cor ou raça”. Só assim nos tornamos verdadeiros filhos do Senhor Bondoso que não cessa suas benesses nem mesmo daqueles que são malvados. Na nossa visita às regiões atingidas pelos terremotos tanto na Turquia como na Síria testemunhamos e sentimos o elevado nível de compaixão e responsabilidade que muitos demonstraram. Indivíduos, igrejas, comunidades, organizações e países, todos se uniram para suprir todos os meios de ajuda cada qual segundo a sua capacidade. Assim, a bondade de Deus instituída nos seres humanos quando os criou à sua imagem e semelhança se revelou e retratou a sua melhor forma sentindo uns pelos outros e considerando-nos guardiões uns dos outros trazendo de volta a segurança da esperança de um futuro melhor para a nossa humanidade.

Portanto amados filhos em Cristo, devemos cuidar uns dos outros, confortar os que sentem dor, consolar os enlutados, apoiar, amar e servir os fracos e demonstrar compaixão a todos eles. Devemos praticar isto não só com aqueles que partilhamos a mesma etnia, nacionalidade, fé ou língua. Nosso amor deve transbordar para abraçar aqueles que estão além das portas da Igreja, os enfermos, oprimidos e sofredores. Assim, nós confirmamos o valor da religião pura que é “cuidar dos órfãos e das viúvas nas suas aflições” (Tiago 1: 27), dar de comer aos famintos, beber aos sedentos, abrigar os estrangeiros, vestir os nus, cuidar dos enfermos, visitar os presos (Mateus 25: 35 –36). Vamos servir a todos, tratá-los com misericórdia e cuidar deles de todo coração. Servindo uns aos outros com amor faz Cristo presente entre nós e nos dá a oportunidade de nos aproximar do nosso Senhor, então, compreenderemos que nosso próximo é qualquer um que cruzar em nossas vidas. Compreenderemos o verdadeiro significado das palavras de Deus: “Quero misericórdia e não sacrifícios” (Oséias 6: 6, Mateus 12: 7), por isso seguimos os mandamentos de nosso Senhor Jesus e tratemos uns aos outros com misericórdia (Lucas 10: 29 – 37) a fim de trazer de volta a esperança à nossa humanidade ferida pelo egoísmo e abuso de liberdade.

Amados filhos espirituais,

Convido-vos a juntarem-se e meditar, nesta Santa Quaresma, sobre a nossa responsabilidade para com os próximos. Esta responsabilidade vem da nossa fé cristã que nos convoca a não discriminar, mas a tratar cada um em amor fraterno de forma incondicional. De fato, o amor é incondicional, não está vinculado ao merecimento do próximo, mas, se origina da fé em Deus e na comunhão da assembleia dos fiéis.

A Santa Quaresma é a oportunidade para renovarmos nossa aliança com Deus e seguir seu maior mandamento: “Amai-vos uns aos outros” (João 13: 34). Observemos o jejum conforme ordenado pela Santa Igreja e “realizar obras comprovando nosso arrependimento” (Atos 26: 20). Façamos doações aos pobres e necessitados, preservar em oração constante para que o Senhor afaste todos os obstáculos da nossa caminhada espiritual e que tolhem a elevação acima dos interesses materiais em busca das coisas espirituais.

Que o Senhor Deus vos abençoe e aceite o vosso jejum, orações e ofertas. Que Ele vos conceda a sabedoria celestial na qual podereis caminhar na Sua divina luz e nunca se desviar das Suas leis. Ele coroe sua luta espiritual com vitória e vos orne com todas as boas virtudes. Ele vos conceda dias de paz para que juntos celebremos com alegria, pureza e santidade Sua gloriosa ressurreição. Rogamos a Ele que vos preserve seguros e livres de todo tipo de doença e dor através da intercessão da sempre Virgem Maria, a Mãe de Deus, São Pedro, o chefe dos apóstolos, de São Filoxinos de Mabug e todos os mártires e santos, Amém, e segue Pai nosso...

Emitido em nosso patriarcado em Damasco na Síria

               Em 23 de fevereiro de 2023                

O nono ano do nosso Patriarcado             

IGNATIUS AFREM II                  
Sumo Pontífice da Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia
Patriarcado de Antioquia e Todo o Oriente


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