Homilia do 7º domingo anterior ao Natal – Renovação da Igreja

por: padre Pablo Neves, pároco da Comunidade Santo Efrém, da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – São Luís – MA

(+) Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, um só Deus Verdadeiro.

Que a Graça e a Paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo esteja com todos vocês.

Prezadas irmãs e irmãos em Cristo, o Senhor mais uma vez nos permitiu estarmos reunidos diante de Seu altar, de onde emanam as Graças e as Bênçãos necessárias para nossa salvação, pois sobre Ele se faz presente verdadeiramente o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o qual professamos sendo um só com Pai e o Espírito Santo e que, por Amor, se deu na cruz para remir nossos pecados.

Queridos filhos e filhas espirituais,

Estamos às vésperas de uma importante data para nosso calendário religioso, carinhosamente chamada de “natal”, por nos recordar o nascimento de Nosso Senhor, o Deus Eterno, que se encarnou para a salvação da humanidade. O pai revestiu-se de humanidade, para que nós retomássemos nosso lugar de origem, o Paraíso, o qual um dia perdemos por termos nos afastado de Deus. O grande santo Atanásio, patriarca de nossa igreja irmã de Alexandria e grande defensor da fé ortodoxa, não hesitou afirmar que “Deus se tornou homem para que pudéssemos nos tornar deuses”, querendo expressar a vontade de Deus em nos tornar novamente habitantes do Céu e em plena comunhão com o Senhor por toda a eternidade.

Nesta semana, recordamos também outra figura ímpar para a Igreja Ortodoxa Siríaca, o grande Patriarca Miguel, também chamado de São Miguel, o Grande ou na língua da Igreja “Mor Mikhayel Rabo”, que pastoreou a Igreja por 33 anos como Patriarca de Antioquia e Todo Oriente, sendo o 79º Sucessor de Pedro da Cátedra de Antioquia. São Miguel foi um grande intelectual e um homem de profunda oração, do qual inúmeros estudiosos da Igreja não cansam de tecer elogios.

Filho de um sacerdote da tradicional família siríaca Qandasi, que gerou muitos frutos para a Igreja, São Miguel cresceu em meio ao doce aroma de Cristo, o que o conduziu para a vida religiosa como monge. No mosteiro de São Barsawmo, tornou-se abade por seu destaque como religioso e intelectual, o que também o fez ser escolhido pelo santo sínodo da Igreja como Patriarca. Tamanha era a capacidade de São Miguel que, durante o concílio latino chamado de “Terceiro Concílio de Latrão” no século XII, o papa de Roma Alexandre III o convidou para defender a Igreja contra os Albigenses (ou cátaros), o que São Miguel fez através de um tratado teológico. A obra de São Miguel é de tamanha importância que, ainda hoje, é utilizada pela NASA – agencia espacial americana – para estudar os eventos climáticos do primeiro milênio, narrados em seus escritos e considerados documentos históricos.

Curiosamente, apesar de toda sua capacidade indiscutível e aplaudida pelo mundo, o então monge Miguel, ao ser eleito Patriarca, fugiu e se escondeu, pois não considerava-se digno do cargo. Vemos que nenhuma das grandes virtudes e capacidade de Miguel alcançavam aquela que mais o distinguia: a humildade. Miguel não era apegado àquilo que o mundo poderia ver nele, pois sabia que tudo aquilo um dia passaria, como céus e terra passarão (São Mateus 24, 35). Miguel só era apegado àquilo que o Senhor Jesus foi enfático ao dizer que nunca passaria: Sua Palavra, que é eterna e vitoriosa.

Apesar de ter cedido ao apelo da Igreja e aceitado o cargo de Patriarca, São Miguel nunca perdeu o foco naquela que era a verdadeira razão de sua vida: o Céu, pelo qual Jesus entregou-se na Cruz para nos livrar do pecado e nos tornar dignos, por sua misericórdia. Também por isso ele foi um profundo escritor e defensor do Sacramento da Confissão, ajudando livrar a Igreja Ortodoxa Copta dos hereges que tentavam seduzir os religiosos e fiéis contra esse sacramento.

O testemunho de humildade de São Miguel, o Grande, nos revela o verdadeiro entendimento do Evangelho de hoje. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo dirige-se aos discípulos e afirma que “quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína?” (São Lucas 9, 24-25). Jesus nos chama a trabalhar e dar testemunho, mas não esperar do mundo reconhecimento, glórias ou elogios. São Miguel é chamado de “o Grande”, porque, antes de tudo, se fez pequeno diante do Senhor, servindo a Igreja por toda sua vida de todo seu coração e intelecto. Somos todos convidados a proclamar junto com o apóstolo São Pedro, que Jesus é o “Cristo de Deus” (São Lucas 9, 20), Aquele por quem todas as coisas foram renovadas (Apocalipse 21, 5) e o único por quem devemos renegar a nós mesmos, tomar cada dia a nossa cruz e seguir (São Lucas 9, 23).

São Miguel o Grande, mesmo sendo um exemplar religioso, profícuo intelectual e grande Patriarca, nunca deixou-se seduzir pelos elogios do mundo, pois professava antes de tudo que todas as essas coisas eram, antes de tudo, cruzes carregadas pelos seguimento de Jesus Cristo. Tudo era pela Igreja, o corpo da única cabeça que é Cristo, Caminho, Verdade e Vida, o único pelo qual chegamos ao Pai (São João 14, 6).

Que pela intercessão de São Miguel, o Grande, as bênçãos recebidas nessa Celebração Eucarística possam estender-se por suas famílias, seu trabalho, seus amigos e colegas, planos e ações concretas, sendo vocês testemunhas de Deus em plena comunhão com Cristo e cheias do Espírito Santo.
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