ENCÍCLICA PATRIARCAL PARA A QUARESMA DE 2020

ENCÍCLICA PATRIARCAL PARA A QUARESMA DE 2020


Em nome do auto existente, sempiterno, de necessária existência...
O Todo poderoso,



Ignatius Afrem II, Patriarca da Santa Sé de Antioquia e de todo o Oriente,



Sumo Pontífice da
IGREJA SIRIAN ORTODOXA
Em todo o mundo.


Estendemos nossas bênçãos apostólicas, orações benévolas e saudações aos nossos irmãos, Sua Beatitude Mor Baselios Thomaz I, Catholicós da Índia, Suas Eminências os Metropolitas, nossos filhos espirituais, os reverendíssimos Cura-epíscopos, reverendos padres, monges, freiras, diáconos e diaconisas e a todo o abençoado povo Siríaco Ortodoxo em todo o mundo. Que a Divina Providência os cinja através da intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e São Pedro o chefe dos Apóstolos e todos os mártires e Santos, Amem.


“Para que todos sejam um...” (João 17: 21)


Amados em Cristo,

Oração de Jesus por aqueles que creram nEle

No Monte das Oliveiras, nosso Senhor Jesus Cristo orou ao Pai, na noite da sua paixão, pedindo por seus discípulos: “Para que todos sejam um” (João 17: 21). No seu diálogo íntimo trinitário, o Filho falou ao Pai mostrando sua submissão à vontade do Pai e seu perfeito amor à humanidade, cumprindo assim o que Ele ensinou aos seus discípulos: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (João 15: 13). Seguindo o mandamento do Senhor Jesus, todos serem um assim como Ele e o Pai são um (cf. João 17: 22), os apóstolos permaneceram unidos um aos outros, numa fé, como São Paulo, o apóstolo, escreve: “Há um só corpo e um Espírito... um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos”. (Efésios 4: 4-6)

Nas orações da Celebração da Transfiguração, cantamos um hino de São Jacó de Serug, o grande mestre da Igreja sobre a unidade da igreja que diz:

“O Pai ensinou (Pedro) através de uma tenda de Luz que Ele fez; que a Igreja é uma e um é o Filho adorado por ele, mas, uma tenda para o Único e não muitas igrejas, mas, uma Igreja para o Filho de Deus. ”

Em verdade estas palavras sábias que pronunciam a unidade da Igreja através dos acontecimentos da Transfiguração do Senhor, afirmam que a Igreja sempre buscou a unidade que eles viram ser vital para a vida da Igreja.

Nas suas palavras na primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo alertou os fiéis com relação às divisões: “Eu lhes disse, peço irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo: mantenham-se de acordo uns com os outros, para que não haja divisões. Sejam estritamente unidos no mesmo modo de pensar e no mesmo objetivo”. (I Coríntios 1: 10). Um pensamento e um objetivo são o resultado do trabalho do Espírito Santo nos indivíduos assim como nas comunidades, através dos seus dons que dos muitos, um só. Isto é semelhante ao que aconteceu com os apóstolos no dia do Pentecoste quando o Espírito Santo desceu sobre eles na forma de línguas de fogo. O Pentecoste uniu os apóstolos e discípulos: diferentemente do que ocorrera na Babilônia onde “o Senhor confundiu suas línguas e os espalhou sobre a face de toda a terra”. (Cf. Genesis 11: 5-9)


Unidade na Fé


O alvorecer da cristandade surgiu e se espalhou apesar das perseguições. De fato, o cristianismo se fortaleceu e enfrentou tormentos através da Graça de Deus que encheu of fiéis, encorajando-os e apoiando nas dificuldades especialmente quando a opressão se asseverava. Sua unidade na fé tornou a Igreja unida e seus filhos podem participar nos sacramentos como expressão do seu companheirismo e unidade espiritual no corpo único que é a Igreja.


Unidade em Jesus Cristo


A unidade da Igreja está arraigada no relacionamento sólido dos ministros e fiéis com Cristo e sua obediência plena aos Teus divinos mandamentos. Consequentemente a unidade da Igreja que é construída no relacionamento correto com o Senhor Jesus Cristo afasta as divisões dentre os fiéis fazendo surgir o grupamento (de pessoas).

Estas divisões se espalharam rapidamente no solo fértil dos novos ensinamentos ou ideologias contrárias aos ensinamentos do Evangelho e as instruções dos apóstolos e santos padres: “por esta razão os fiéis se alinhavam com Paulo ou Apolo”. (Cf. I Coríntios 1: 12)


A Cruz de Cristo é o Símbolo da União dos Fiéis


A Cruz de Cristo permanece como o símbolo mais forte da unidade porque os apóstolos discípulos e toda humanidade foram incluídos na mesma salvação que se completou na Cruz. Em sua carta aos coríntios, São Paulo destaca a importância da Cruz para a confirmação da união: “Será que Paulo foi crucificado em favor de vocês? Ou será que vocês foram batizados em nome de Paulo? ” (I Coríntios 1: 13). A partir daí os cristãos entenderam que a Cruz do Senhor os unia no mesmo sacrifício, amor e única salvação”.

Apesar das injustiças, a única igreja universal cresceu mais forte na era apostólica porque povos de todas as nações aceitaram Cristo como seu salvador e estavam unidos na sua Cruz. “Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homens e mulheres, pois, todos vocês são um só em Jesus Cristo” (Gálatas 3: 28). O terceiro patriarca de Antioquia, Santo Inácio Teóforo (Mor Ignatius Nurono) foi capaz de unir as facções da Igreja em Antioquia, mais precisamente os judeus convertidos e os gentios crentes. Chamou-a de “católica” porque ela uniu todas as etnias sem discriminação e estava aberta a todos oferecendo a salvação a todos. Aprendemos assim a importância do ensinamento do Senhor: “e haverá um só rebanho e um só pastor”. (João 10: 16)


Divisões da Igreja


O testemunho do Evangelho de Cristo continuou a se espalhar no Velho Oriente. Logo, teólogos começaram a interpretar os temas divinos de formas diferentes e se dividiram sobre diversos itens doutrinais e políticos. Isto resultou no surgimento de conflitos usados pelo maldito para dividir a Igreja. Ensinamentos estranhos penetraram na Igreja na tentativa de afastar os fiéis da fé apostólica ortodoxa. A unidade da Igreja foi rompida e a Igreja praticamente se tornou “um reino dividido entre si” (Cf. Mateus 10: 21). Apesar das divisões na Igreja, a Graça de Deus preservou a Igreja, apesar de um grande cisma passar a existir entre os cristãos resultando numa luta entre eles.


Fundamentos da Unidade


A unidade da Igreja pode ser considerada garantida. Mas, é difícil preservar entre os fiéis e restaura-la uma vez que as divisões se arraigaram. Através da humildade e amor que nos unem em Cristo, podemos trabalhar juntos para remover as disputas e conflitos. Assim elevamos nossos corações juntos ao Senhor em um espírito. Consequentemente os fiéis se tornam verdadeiramente “o corpo de Cristo e individualmente membros dEle”. (Cf. I Coríntios 12: 4).

O amor que emana da fé do Senhor Jesus Cristo inspira nos povos o desejo de fazer sacrifícios pelos outros. Pois: “se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica como simples grão, mas, se morre, produz muitos frutos” (João 12: 24). Do mesmo modo quando o fiel sacrifica em prol da unidade da Igreja e enterra no solo espiritual “toda maldade, orgulho, egoísmo... eles gozarão os frutos do Espírito que são amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência e fé” (Gálatas 5: 32). Isto manterá a unidade da Igreja intacta e fará surgir os frutos da santidade nas futuras gerações.


Trabalhando pela Unidade da Igreja


Desde as primeiras divisões na Igreja e apesar das perseguições que se seguiram afetando nossa Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia; nossa Igreja não desperdiçou nenhum esforço para convocar e trabalhar pela união dos cristãos. Em verdade o Patriarca Mor Severios o Grande, viajou a Constantinopla para discutir o tema da união dos cristãos. O grande sábio, Mor Gregorios Bar Hebraeus, Católico do Leste, escreveu sobre os Cismas na Igreja descrevendo-os como um “conflito de terminologia” convidando todos os cristãos a se unir.

Nas décadas recentes nossa Igreja superou velhas feridas históricas e se abriu para as outras igrejas irmãs colaborando de várias maneiras especialmente no domínio do ministério pastoral. Mitigar a unidade entre as Igrejas Siríacas que partilham a mesma língua e tem uma herança cultural comum continua sendo prioridade para nós. Continuaremos a trabalhar juntos para alcançar o cumprimento da unidade afim de recuperar a unidade da fé e testemunho, como era nos primeiros séculos da cristandade.

Agradecemos a Deus pelo fato de a Igreja gozar da unidade apesar de imperfeita. Está unida em oração pela paz no mundo e a serviço de toda humanidade. Através desta união os fiéis de todas as igrejas, Oriente e Ocidente, oram pelos dois arcebispos sequestrados de Alepo, Boulos Yazigi e Mor Gregorios Youhanon Ibrahim desde o primeiro momento do seu sequestro. Esperamos o seu retorno seguro às dioceses. Nesta Santa Quaresma oferecemos nossas orações por eles e apelamos mais uma vez a todos os poderosos que decidem a olvidar esforços pelo retorno seguro deles.

Amados em Cristo,

No início desta Quaresma, enquanto meditamos sobre a unidade da Igreja que é o Corpo de Cristo, convidamos todos unidos a caminhar em espírito através do verdadeiro arrependimento e orações fervorosas, através da leitura da Bíblia e da caridade, através do ministério e testemunho de Cristo. Convidamos também, todos a orar pela unidade da nossa Santa Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia; a união é a fonte da nossa força e sinal de obediência a Deus. Vamos superar os percalços que buscam enfraquecer a Igreja, derrubando os obstáculos que surgem à nossa frente através do trabalho do maligno que busca nos dividir. Ao mesmo tempo oremos pela união de todas as Igrejas Cristãs.

O Senhor aceite o vosso jejum, arrependimento, oração e caridade. Possa Ele nos tornar dignos de rejubilar na Festa da Ressurreição através da intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus, São Pedro chefe dos apóstolos e todos os mártires e santos.

Deus vos abençoe, e

Pai nosso que está no céu...

Emitido do nosso Patriarcado em Damasco, Síria

27 de fevereiro de 2020
O 6º. Ano do nosso Patriarcado
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