Sobre "existir igreja malankara" no Brasil



Autoria: comissão de comunicação da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil
Publicado: 10 de fevereiro de 2021

Vamos explicar isso contando uma história meio complicada, mas dividindo e numerando cada parte para sermos didáticos e vocês não se perderem.

PRIMIEIRA PARTE

1 - No dia 05 de dezembro de 2007 o monge padre Moses Görgün foi EXCOMUNGADO pela Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – Patriarcado de Antioquia e Todo Oriente, juntamente com dois outros monges que se rebelaram contra nossa a Igreja na Europa;

2 - Eles então foram recebidos pela “Igreja Sirian Ortodoxa Malankara” (ou simplesmente chamada de “Igreja Ortodoxa Malankara”), um ramo dos chamados “cristãos de são Tomé” que foi EXCOMUNGADO pela Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – Patriarcado de Antioquia e Todo Oriente no ano de 1975. Seu chefe chama-se Baselios Paulose II;

3 – É importante compreender que há várias Igrejas na Índia formadas a partir dos cristãos de são Tomé, entre igrejas orientais ortodoxas, assírias (pejorativamente chamadas de "nestorianas"), reformadas e católicas de rito oriental. Dessas Igrejas somente a Igreja Sirian Ortodoxa Jacobita de Malankara tem comunhão com a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – Patriarcado de Antioquia e Todo Oriente, e seu chefe (catholikós ou maphriono) na Índia é Sua Beatitude Baselios Tomas I;

4 – Voltando ao padre (monge) Moses Görgün, que, lembrando, foi EXCOMUNGADO pela Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – Patriarcado de Antioquia e Todo Oriente em 2007, ele foi sagrado bispo em 21 de novembro de 2007 pela Igreja Sirian Ortodoxa Malankara que, lembrando, também foi EXCOMUNGADA pelo Patriarcado de Antioquia. Eles formaram então a chamada “igreja sirian ortodoxa da Europa” para afrontar o Patriarcado de Antioquia tanto por parte do ex-monge Moses Görgün, que foi EXCOMUNGADO, quanto por parte da Igreja Sirian Ortodoxa Malankara, que também foi EXCOMUNGADA e é, desde então, protagonista de vários conflitos com nossa Igreja na Índia;

5 – Após isso, em 25 de setembro de 2011 o agora “bispo Moses Görgün” sagrou a Philippe Miguet, da França, ex-padre da “igreja católica independente” da França, que já havia sido sagrado bispo por Dom Pierre Martin Ngô Đình Thục, bispo EXCOMUNGADO da Igreja Católica Romana em 1976;

6 – Tempos depois, o bispo Moses Görgün EXCOMUNGOU Philippe Miguet, e este então fundou a “Igreja Siro-Ortodoxa-Francófona” que é uma comunidade independente sem ligação canônica alguma com a Igreja Sirian Ortodoxa Malankara, da qual até 2009 era ligado o bispo Moses Görgün que o havia sagrado bispo em 2011.

7 – A propósito, o bispo Moses Görgün foi também EXCOMUNGADO pela Igreja Sirian Ortodoxa Malankara em 2009, ou seja, quando ele sagrou Philippe Miguet em 2011, ele não era mais parte dessa Igreja na Índia. Em 2016 o bispo Moses Görgün foi aceito pela “Igreja Ortodoxa Genuína” da Grécia, uma igreja independente velho-calendarista que não possui nenhuma ligação, comunhão ou vínculo com os Patriarcados Ortodoxos (Calcedonianos) de Constantinopla, Rússia etc;

SEGUNDA PARTE

8 – Em janeiro de 2015 o senhor Ángel Ernesto Morán Vidal foi sagrado bispo por Dom Athanasios 1º Aloysios, Patriarca da Igreja Ortodoxa Bielorussa Eslava no Extrangeiro, uma Igreja nacional sem qualquer comunhão, ligação ou vínculo canônico com as Igrejas Ortodoxas (Calcedonianas) de Constantinopla, Rússia etc;

9 – Tempos depois o senhor Ángel Ernesto Morán Vidal, agora bispo de uma igreja nacional fundada por ele mesmo chamada “Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru” entrou em contato com a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil manifestando o desejo de ser aceito por ela como bispo juntamente com todo seu clero e comunidades no Peru;

10 – O Patriarca Sirian Ortodoxo de Antioquia, em 2018, designou então à Dom Tito, arcebispo para as Igrejas Sirian Ortodoxas de Antioquia em missão no Brasil, que acompanhasse o pedido, visitando as comunidades no Peru, conhecendo o clero, as atividades, as questões legais etc para depois de pelo menos 2 anos poder submeter ao Santo Sínodo a possibilidade de aceita-los na Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia;

11 – Assim, Dom Tito e mais uma comitiva do Brasil visitou o Peru em 2018, a pedido do Patriarca, bem como o senhor Ángel Ernesto Morán Vidal também visitou o Brasil. A propósito, o senhor Ángel Ernesto Morán Vidal também visitou a Síria em 2019, mas somente como VISITANTE. Ele e ninguém da comitiva do Peru foi sagrado, re-sagrado, ordenado, confirmado ou mesmo abençoado por ninguém para nada. Repetindo, ELE FOI SIMPLESMENTE UM VISITANTE na Síria. Não houve ordenação, não houve sagração, não houve confirmação – NADA!;

12 – Após isso, ainda sendo APENAS ACOMPANHADO pela Igreja e NÃO PERTENCENDO à Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, a Igreja no Brasil descobriu questões de ordem particular que impediam que Ángel Ernesto Morán Vidal fosse aceito como bispo e foi então ENCERRADO o acompanhamento do pedido de ingresso na Igreja por parte de Dom Tito e, consequentemente, por parte de toda Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia. Em outras palavras, apesar das visitas tanto no Peru, quanto no Brasil e na Síria, eles NÃO FORAM ACEITOS EM NENHUM MOMENTO na Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia;

13 – Por fim, Ángel Ernesto Morán Vidal então entrou em contato com Philippe Miguet, que fundou a “Igreja Siro-Ortodoxa-Francófona” (ver item 6) e este visitou o Peru e o sagrou bispo, ficando ligado a ele. Lembrando que Philippe Miguet NÃO É BISPO DA IGREJA SIRIAN ORTODOXA MALANKARA, ainda que mantenha (somente segundo ele mesmo) contatos amistosos com bispos dessa Igreja na Europa, o que obviamente não configura nada além de amizade;

14 – No Brasil, alguns padres e diáconos que se desligaram da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia (ou até alguns candidatos que sequer chegaram a isso) se ligaram ao senhor Ángel Ernesto Morán Vidal, direito que têm, afinal somos um país laico e com liberdade religiosa, e “converteram” suas comunidades no que chamam de “igreja sirian marthoma” ou mesmo “igreja sirian malankara” ou de “tradição malankara” ou “indiana”. Contudo, o uso de termos como “canonicidade”, “igreja filha de”, “tradição”, “ortodoxa”, “malankara” e “sirian” induz muitas pessoas a entenderem que essas comunidades com seus respectivos religiosos fazem parte da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia ou da Igreja Sirian Ortodoxa Malankara na Índia, mas ISSO NÃO É VERDADE!;

CONCLUSÃO

O senhor Ángel Ernesto Morán Vidal é bispo da “Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru”, uma igreja nacional fundada por ele ligada à “Igreja Siro-Ortodoxa-Francófona” outra igreja nacional fundada por Philippe Miguet no município de Chandai, na região da Normandia, na França.

Eles usam símbolos da tradição siríaca (como paramentos, cruzes etc) que são facilmente comprados na internet até mesmo por páginas do Facebook, e afirmam ser de “tradição canônica ortodoxa siro-malankara” o que seria uma forma de induzir as pessoas a entenderem que isso significa ser parte, ter ligação ou comunhão, plena ou "parcial", com a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – Patriarcado de Antioquia e Todo Oriente ou mesmo com qualquer Igreja na Índia, mas ISSO NÃO É VERDADE. Eles apenas usam as mesmas roupas, assim como, por exemplo, temos igrejas nacionais no Brasil que usam símbolos tais quais da Igreja Católica Romana de rito Latino, mas obviamente não são parte e não tem comunhão com esta.

Eles também constantemente usam fotos tiradas no período de acompanhamento com autoridades da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, como bispos e patriarcas, para sutilmente tentar legitimar sua suposta canonicidade e ligação com o Patriarcado de Antioquia ou mesmo com qualquer Igreja na Índia.

Outros afirmam ainda que essas comunidades do Peru estariam em “processo de aceitação”, mas isso também não é verdade. Tanto a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia quanto a Igreja Sirian Ortodoxa Malankara foram oficialmente consultadas para produção desse texto.

Por fim, o Brasil é um país laico e com liberdade religiosa, onde as pessoas podem ir a um cartório e fundar uma igreja ou uma religião como quiserem, mesmo usando termos que historicamente identificam as Igrejas tanto no ocidente quanto no oriente por séculos, como “católica” ou “ortodoxa”. Essas comunidades, perante a lei brasileira, não são “igrejas falsas”. Contudo, temos o dever de esclarecer que, dentro do entendimento (e do também direito que temos de entender assim) tanto das Igrejas Orientais Ortodoxas quanto da Igreja Católica Romana, essas comunidades não são canônicas, não tem comunhão, nem “semi-comunhão”, nem “comunhão parcial”, nem são filhas, primas ou sobrinhas dessas Igrejas históricas, não estão em processos de aceitação ou qualquer coisa parecida. Temos o dever de respeitá-los como cidadãos brasileiros que exercem seu direito constitucional de liberdade religiosa, mas temos, dentro do mesmo direito, o dever que esclarecer o que, para nós, é a verdade.

Caso qualquer uma dessas realidades mudem no futuro, fazemos questão de corrigir as informações e informá-los aqui, mas até a presente data, esta é a verdade. Quem afirma o contrário, ou infelizmente acreditou em uma mentira ou está mentindo conscientemente também.
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